Grita um abismo a outro abismo
com o fragor das tuas cascatas;
tuas vagas todas e tuas ondas
passaram sobre mim.
(Salmo 42-7)
Um jovem pensamento deteve-se abruptamente numa
cognição distante e imperativa:
- E se houver outra realidade dentro desse
sumidouro? Digo: e se existir outros universos no interior desse abismo
cósmico? Nem digo do outro lado, pois assumiria o risco de afirmar a existência
de algo além do abismo, sendo esse tão somente uma passagem para outra
realidade. Refiro-me, em verdade, ao âmago desse abismo. Será possível tal
existência?
O ex-santo lembrando do seu último milagre entre os
homens, saudojocoso de suas então imutáveis jococertezas,
trepa sobre seus outrora pés barrocosos e de cima do todo
paramentado pedestal lamenta piamente em sua redescrença:
- Creio que a imensidão ao achar outras imensidões
descobre-se já não tão imensa quanto outrora se cria. Alguma coisa me diz que é
lá no fundo do abismo onde se encontra a origem para toda a criação, enquanto
que em suas bordas encontra-se apenas todas as ilusões de uma realidade
ensimesmada em suas percepções inconclusas enquanto é lenta e inexoravelmente
tragada ao encontro de uma verdade absoluta que nada mais é do que uma coleção
repetitiva de verdades pra lá de transitórias e fortuitas do eterno absoluto,
senhor caprichoso dos destinos alheios e enganador máximo das vontades nossas.
Dizia solenemente a cafetina às suas jovens
raparigas enquanto as prepara para o próximo velhaco escroto que as abusará o
resto da noite:
- Minhas filhas, é sabido por todas que quando no
limite do abismo pode-se estar em dois lugares distintos: ou a salvo, em sua
beirada, ou perdida, em suas profundezas. Não existirá outra possibilidade fora
essa verdade unigênita em que vivemos.
Em meio as correntezas de suas águas cristalinas,
num retumbante sempresalto que começa e termina em si mesma, a
poderosa cachoeira não se cabe em seu sempreleito enquanto irrompe-se
num revelador semprinsight:
- À beira do inevitável não é apenas uma expressão
dissimulada para procrastinar - ou melhor, tentar iludir - o inevitável retorno
da criação às possibilidades incansavelmente revividas pela natureza
transitória do todo? Tudo de novo!
Enquanto vislumbra seu passo além do horizonte de
eventos do buraco negro, a maior das estrelas da maior das galáxias do maior
dos universos desfaz-se numa espiralada revelação:
- O porquê de se conjecturar o insondável destino
de nossa realidade se, ao nos depararmos com tais agonias futuras dessa nossa
jornada cósmica somente nos resta esta "única" existência possível?
Se, e somente se, o que nos resta seja este brevíssimo momento fortuito, por
que deveríamos desacreditá-lo em maldições desnecessárias a um carma
existencial eterno e imperscrutável? Revelo: se é fato que morreremos nessa
existência cósmica, se é crível outras realidades coexistirem num eterno
círculo de nascimento, manutenção e morte, não seria verdade que a única razão
plena que podemos experimentar é justamente esta tão curta vida que nos resta?
Talvez o ponto máximo dessa criação seja justamente o entendimento que para uma
vida plena basta apenas aceitar que uma vida já é o suficiente.
* Texto de Roberto W.
Imitão!!!
ResponderExcluirVocê mais ou menos que roubou meus pensamentos!
Como assim "roubei teus pensamentos"? Explique-se melhor, minha linda! Creio que ninguém lê nada aqui mesmo...Estou até pensando em utilizar esse espaço (blog) para anotar minhas senhas bancárias dentre outras das mais importantes, pois lugar mais seguro e inacessível está para existir...Uma lástima para mim, em absoluto (risos!)!
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